ATA DA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLA­TIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 05.04.1990.

 


Aos cinco dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Terceira Sessão Solene da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a assinalar o transcurso dos oitenta e um anos do Sport Club Internacional. Às dezessete horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalida­des presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dep. Valdomiro Vaz Franco, representando a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; Senhores José Asmuz; Luiz Fernando Zachia; Valdir Lopes; Luiz Carlos de Carvalho Leite e Pérsio França, respectivamente Presidente, Primeiro Vice-Presidente, Segundo Vice-Presidente, Secretário da Presidência e Diretor de Futebol do Clube homenageado; Ver. Clóvis Ilgenfritz, representando o Executivo Municipal; Ver. Nelson Castan, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, ouvirem o execução do Hino do Sport Club Internacional e pronunciou-se acerca do significado da homenagem que a Casa presta hoje a esse clube esportivo. Em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que se pronunciariam em nome da Casa. O Ver. Nelson Castan, em nome das Bancadas do PDT, PCB, PSB e PL, relatou feitos esportivos do Sport Club Internacional, expressando o significado da trajetória de conquistas futebolísticas levada a efeito pelo clube homenageado. O Ver. João Motta, em nome da Bancada do PT, citou passagens históricas do Sport Club Internacional e nomes de atletas que se têm destacado jogando por esse clube, afirmando sua confiança de conquista, pelo Internacional, do Campeonato Gaúcho de Futebol de mil novecentos e noventa. O Ver. Vicente Dutra, em nome da Bancada do PDS, teceu comentários sobre as origens do Sport Club Internacional, analisando a vitoriosa trajetória esportiva seguida pelo clube desde sua fundação. Ressaltou a grandiosidade do Estádio Gigante do Beira-Rio. O Ver. Luiz Braz, em nome da Bancada do PTB, saudou a direção, atletas, funcionários e torcedores do Sport Club Internacional pelo transcurso dos oitenta e um anos do clube, ocorrido ontem, destacando que o Internacional já ultrapassou as barreiras do Estado, sendo conhecido nacional e internacionalmente. E o Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, registrou que desde a infância acompanha as atividades esportivas do Sport Club Internacional, sendo torcedor do clube. Lembrou vínculos existentes entre a agremiação, a Prefeitura e o Legislativo Municipal, pela construção do Estádio Gigante do Beira-Rio e manutenção do patrimônio representado pelo Estádio dos Eucaliptos. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Sr. Luiz Carlos de Carvalho Leite que, em nome do Sport Club Internacional, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Às dezoito horas e treze minutos, o Sr. Presidente convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Nelson Castan, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Nelson Castan, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.       

 


O SR. PRESIDENTE: O primeiro orador inscrito é o Ver. Nelson Castan, que tem a palavra pelas Bancadas do PDT, PCB, PSB e PL.

 

O SR. NELSON CASTAN: Senhores e senhoras, um clube que nasce para ser o clube de todos, tem na sua origem o destino de ser grande. O Sport Club Internacional, no decorrer dos seus oitenta e um anos, tem confirmado a cada dia o ideal que moveu os irmãos Poppe, em quatro de abril de mil novecentos e nove, a fundar o clube do povo do Rio Grande do Sul. A camisa vermelha do Inter, da cor do sangue que corre igual nas veias de todos, tem honrado o nome de Porto Alegre e do Rio Grande por gramados nos mais distantes lugares. Para nós, homens públicos, é antes de tudo uma obrigação homenagear a quem tão bem representa o espírito da nossa terra.

Neste instante, somos portadores de um sentimento que não é exclusivamente nosso, mas que está expresso em cada canto do País onde haja um amante do esporte. Faço destas palavras um reconhecimento a todos que ajudaram a construir estes oitenta e um anos de história que ora celebramos.

A cidade de Porto Alegre agradece ao Sport Club Internacional pela honra de ter sido palco de tantas conquistas, na certeza de ser parte integrante desta trajetória. Fica a confiança de que este é só o começo, pois a essência do que buscavam os primeiros colorados permanece viva nas arquibancadas do Beira Rio. A cada jogo, a cada gol, reacende-se a chama de luta, trabalho e dedicação que alimentou a construção do complexo Beira Rio. O parque náutico, o gigantinho e o Estádio Pinheiro Borda são a garantia de um lazer ao alcance de todos, um exemplo de atividade salutar e democrática.

O esporte amador, parte integrante da nação colorada, tem tido papel de destaque na formação de atletas nas mais variadas modalidades. Inúmeros títulos gaúchos, brasileiros e até continentais vêm sendo conquistados pelos jovens atletas formados no Inter, num exemplo de integração com a comunidade maior.

Lembrar as glórias do passado, como o octa gaúcho, o panamericano, o tri brasileiro e o rolo compressor, é alicerçar um caminho de novas conquistas. A comunidade colorada tem se esforçado com sucesso, para imprimir uma visão moderna a seu clube, sem nunca esquecer àqueles que cimentaram os primeiros tijolos.

Meu partido, o PDT, sente-se orgulhoso pela iniciativa de saudar mais um aniversário do Internacional. Independentemente de cores clubísticas, esta data orgulha a todo o Estado do Rio Grande do Sul.

Dentro e fora do campo, permanece a certeza de que o Colorado continuará honrando a cidade de Porto Alegre. Em nome dela, muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: O próximo a ocupar a tribuna é o Ver. João Motta, que tem a palavra pelo PT.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Senhores e senhoras, talvez não fale, aqui, em nome do conjunto da Bancada do PT, mas tenho certeza de que falo em nome da maioria da Bancada, embora não tenha feito a enquete, e o farei, mas creio que a maioria da Bancada é colorada. Falo como um colorado que sou desde os primeiros anos de vida, e a curiosidade é que me tornei colorado por intermédio de um gremista, meu tio, que me deu uma camiseta, e desde lá cultivo isso que, para mim, é uma paixão, uma emoção, e muitas vezes, chega a ser uma tristeza e uma derrota. Gostaria de relembrar parte daquilo que tenho, não vivido, mas escutado e lido da história do Inter que hoje comemora 81 anos, história essa que passa pela década de 1940, passa por Tesourinha, Nena, Ávila, Adãozinho. Na década de 1950 pelo técnico Teté, por Bodinho, Salvador, Oré, pelo Campeonato Sul-Americano de forma invicta e a era mais recente que esta, sim acompanhei muitas vezes chorando de alegria ou de tristeza, a era do Beira-Rio, do Tricampeonato. Presenciei todas as partidas decisivas e na figura do Valdomiro, também, quero relembrar todos os Vereadores que nos deram várias alegrias neste título inesquecível que foi o Tricampeonato, passando também por vários outros jogadores que estão na nossa memória como Falcão, Figueroa, Carpegiani e outros. Também, Sr. Presidente, demais membros da Mesa, senhores e senhoras, cultivo uma visão de que futebol na sociedade brasileira, historicamente, tem sido uma expressão popular legítima do povo brasileiro. Nós achamos que o futebol é fundamentalmente uma expressão cuja síntese é a emoção e a esportividade e não como muitas vezes tentou transformar o futebol em síntese de manipulação e demagogia. Isto está muito preso na nossa geração, na nossa memória, o que foi feito no futebol na Copa de 1970, em cima dos slogans, do “Brasil, ame-o ou deixe-o”, etc. Portanto, não compartilhamos com esta concepção cuja síntese é de fato a manipulação e a demagogia e que tem como consequência a exploração do sentimento mais sincero que o povo consegue cultivar em cima de todo este mal tempo que a gente vem vivendo no País ao longo de muitos anos. Portanto, eu gostaria de colocar que a minha visão é de que o futebol é fundamentalmente uma expressão de emoção e esportividade. Por fim gostaria apenas de, reforçando, destacar que não só enquanto Vereador, político, buscarei reproduzir, não só para meus filhos mas para os meus companheiros de partido bem como para todos aqueles ou aquelas, homens ou mulheres que tenham por ventura a oportunidade de discutir ou conversar sobre futebol e mais precisamente sobre o Internacional, tentar resgatar tudo aquilo que eu acho fundamental nisso tudo, ou neste fio das nossas vidas, ou seja, de tentar resgatar o futebol ou a paixão pelo Internacional como sendo fundamentalmente a expressão de uma manifestação livre de um povo e esta expressão é muitas vezes informada por um gesto de indignação de raiva, um impropério muitas vezes, um palavrão, mas ela é uma expressão radical e profunda de seres humanos que querem expressar aquilo que muitas vezes é contido pela exclusão ou pelo autoritarismo que é a sua emoção. Também encontramos no Beira-Rio, bem como nos demais estádios de futebol, no momento em que estamos subindo ou descendo a rampa do nosso Estádio, como sendo fundamentalmente o acesso a um espaço coletivo onde todos vivem igualmente a raiva, a alegria, independente da cor, raça, sexo, ou condição econômica. Tenho para mim exatamente esta síntese, que acho que neste momento é importante resgatar para todos nós. Para concluir, gostaria de registrar, como colorado que sou, que este ano seremos vitoriosos no Campeonato Gaúcho e oxalá abriremos as portas para novos títulos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Vicente Dutra pelo PDS.

 

O SR. VICENTE DUTRA: Prezados senhores e senhoras, nascido da significativa contribuição de estudantes do Colégio São Leopoldo - hoje UNISINOS - do Colégio dos Irmãos Lassalistas de Canoas e do Colégio Júlio de Castilhos, de Porto Alegre, o Sport Club Internacional, que recebe desta Casa, hoje, as mais merecidas homenagens pelo transcurso de seu 81º aniversário, foi efetivamente fundado em 4 de abril de 1909 graças à iniciativa de um grupo de jovens do antigo arrabalde do Menino Deus, do qual se tornaria um representante na prática do futebol em nossa Cidade, e onde instalaria seu primeiro campo. O campo ficava localizado na Rua Arlindo, atualmente denominada Sport Club Internacional.

Por duas vezes, contudo, mudou de casa, sem nunca, entretanto, desenraizar-se do velho arrabalde: em 1931 inaugurou o antigo Estádio dos Eucaliptos, na sua Silveiro, e em 1969 o Gigante da Beira-Rio, um orgulho arquitetônico da Cidade, só comparável ao êxito histórico que assinalaria a trajetória daquela instituição, incipientemente como clube de futebol, depois como indiscutível paixão de milhões de torcedores e, mais tarde, como verdadeira empresa-modelo.

Talvez devêssemos nos dispensar de um agradável inconfidência, qual seja a simpatia pessoal, pelo Sport Club Internacional, deste orador que aqui tem a honra de representar a Bancada do Partido Social Democrático. E talvez pudéssemos nos dispensar também, de relatar, aqui, toda a trajetória de glórias alcançadas nesses 81 anos, pois nem é preciso ser um sincero torcedor para exaltar aquelas conquistas, nem se faz necessário qualquer esforço de memória para encontrá-las no tempo, tão significativas e tão presentes que são para Porto Alegre, para o Rio Grande e para o País. Campeão da Cidade um cem número de vezes, campeão estadual desde os seus primórdios, campeão brasileiro em três oportunidades, o Sport Club Internacional rompeu, com estes últimos títulos, uma barreira outrora intransponível aos clubes da província, e soube se impor pelos gramados do País e do mundo pela eficácia e competência de dirigentes e atletas.

Foram tantas as vitórias, que o velho clube do Menino Deus transformou-se, agigantou-se e deixou de ser simplesmente um motivo de paixão dos seus torcedores, metamorfoseando-se num orgulho de todos nós.

A história do Sport Club Internacional, todavia, não pode ser contada inteira nestas breves palavras. Na verdade, nunca poderá ser inteiramente contada; ela se reescreve todos os dias, pois muito mais do que seu passado de glórias, este clube desfruta de invejável condição de ver à sua frente um futuro mais grandioso ainda.

Um futuro de vitórias que, como o próprio Internacional, resultará de nosso desejo e da convicção de que o trabalho sério só pode conduzir por esse caminho. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Luiz Braz pelo PTB.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Hoje, dia cinco de abril de 1990, a Câmara Municipal de Porto Alegre presta sua homenagem ao Sport Club Internacional. Em nome da Bancada do PTB, da qual sou Líder nesta Casa, saúdo a diretoria colorada, seus atletas, funcionários e torcedores pelos seus 81 anos de existência.

Por isso, é grande a satisfação de registrar a passagem do aniversário deste clube, ocorrida no dia de ontem. Sua história traduz um inesquecível passado de glórias, um presente de alegrias e um futuro de esperanças a conquistas de outros importantes títulos. Este é o Internacional que emociona, encanta e orgulha todos os gaúchos e, principalmente, nós porto-alegrenses.

Na verdade, falar do Sport Club Internacional é lembrar com saudade as vitórias dos três maiores times que o Estado já possuiu: o “Rolo Compressor”, o “Time do Panamericano” e o “Conquistador do Brasil”, este último já na década de 1970, responsável por lançar o Clube ao 1º lugar no ranking do futebol brasileiro. O Internacional pela sua pujança, ultrapassou há muito os limites de nosso Estado, sendo reconhecido com um clube destacado entre os grandes do mundo.

Dia 04 de abril de 1909, os três irmãos Poppe juntamente com Antônio Coiro, João Leopoldo Seferin, Legendre de Chagas Pereira, Breno Dorneles, Arquimedes Fortini entre outros, depois de uma longa reunião, na casa de número 141 da Av. Redenção, fundaram o clube do povo. Na reunião foi escolhida apenas a cor da camiseta: vermelha.

No dia 14 de abril daquele ano, é escolhido o nome: Sport Club Internacional e, igualmente, é empossada a primeira diretoria: Presidente honorário, Graciliano Ortiz; Presidente efetivo, João Leopoldo Seferin e Vice-Presidente, Pantaleão Gonçalves de Oliveira.

No dia 02 de maio, o clube fundou a sua sede na Rua José de Alencar, 179. Com a doação de um terreno localizado no fim da Rua Laurindo, o Inter passou a realizar os seus treinos. Nesta ocasião, o clube já contava com cerca de 40 sócios.

O primeiro adversário do Inter foi o Grêmio, clube já organizado e praticamente do esporte há bom tempo na época. O resultado não poderia ter sido outro. O Inter perdeu a partida. Mesmo assim, os fundadores do clube do povo não desanimaram. Sabiam que as derrotas iniciais eram inevitáveis, assim como tinham a certeza de que as vitórias chegariam.

A semente estava lançada. O clube existia e era reconhecido. Quem desejasse dele participar era bem-vindo. A idéia inicial tinha vencido, este seria um clube de todos para todos. Esse colosso colorado que, inquieto às margens do Guaíba, projeta por todos os rincões seu espírito de glórias, de fraternidade e de paz. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Artur Zanella está com a palavra pelo PFL.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Meus senhores, minhas senhoras, eu estava preocupado e estou ainda, de que forma eu conduziria - e vou conduzir - este pronunciamento porque eu gostaria de fazer duas coisas distintas. Primeiro o meu relacionamento com o Sport Club Internacional e depois o relacionamento desta Casa com o Sport Club Internacional. Isso é muito difícil porque a grandeza da Casa, a grandeza do Internacional, evidentemente contrastam com as minhas limitações como cidadão desta Cidade, e como simples colorado que sempre fui. E não tenho a verbosidade, aquela facilidade de expressão quando trato do Internacional, como por exemplo um Keni Braga que está ali neste momento, um jornalista, ele que deveria na verdade estar aqui, como Vereador que foi brilhante. Mas eu me lembro, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, que desde pequeno lá na fronteira, aquele acompanhamento pelos jornais dos clubes de futebol. E que estranhos desígnios fazem com que oito irmãos, uns sejam colorados, outros gremistas, recordando fotografias da Revista Cruzeiro, dos jogadores. E lá por 1952, 1953, por exemplo, escolher a Portuguesa de Desportes como meu time de São Paulo, porque havia perdido para o Internacional por 3x1, quando a Portuguesa era chamada a fita azul do futebol brasileiro, tinha jogado dezenas de partidas e não havia perdido e foi perder aqui.

Lembro que quando comecei a trabalhar, o primeiro salário que ganhei, como tinha sido um pouco demorado para receber, eu saía da agência bancária e convidaram para eu assistir um treino do Internacional, lá no estádio do Nacional, Ferrinho na época, onde se preparava o lançamento de um grande jogador, se não me engano era o Vasconcelos ou o Ramiro, que vinha do Atlético de Madri. E lá encontrei o Eraldo Hermann com uma lista de resistência para o pagamento do passe desse jogador, e uma parte do meu primeiro salário foi para o Sport Club Internacional, para pagar aquele jogador. E eu lembro que virei Flamengo exatamente porque era o clube do povo do Rio de Janeiro e porque tinham vindo de lá tantos jogadores, como o Luizinho, que terminou como funcionário da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Lembro-me, ao ver o Záchia, ex-Presidente, outro Vice-Presidente que provavelmente será a primeira família em que três integrantes desta família serão integrantes do Clube, porque o futuro que é sempre imprevisível, neste ponto, não é. O Luiz Fernando um dia vai ser Presidente do Clube também. Lembro-me que José Alexandre Záchia foi o primeiro Vereador do Partido Democrata Cristão aqui na Câmara de Vereadores e eu confirmava isto há pouco com um de seus filhos. Lembro do Valdomiro que me fez perder uma prova para assistir uma das últimas partidas lá nos Eucaliptos contra o São Paulo de Rio Grande. Estou virando Cruzeiro de Minas, por exemplo, porque era o Enio Andrade, o Eder contra o Éder. Então, na verdade eu não sou tão democrático como o Ver. Luiz Braz, também tenho o anti-gremista e não sei se admiro a democracia do Ver. Castan, um gremista que pediu no ano passado esta Sessão, ou, se admiro a sua memória, porque no ano passado eu dizia: um gremista nos tirou a oportunidade de homenagear o Internacional. Não sei se admiro a sua boa memória ou sua índole democrática. Mas o que eu queria dizer é que o Internacional mantém com a Prefeitura e com esta Casa vínculos profundos e me lembro que não era Conselheiro do Internacional, como agora, quando se discutia se o Estádio dos Eucaliptos deveria ser ampliado ou não e se imaginava até que a rua paralela a Silveiro poderia ser desafetada e doada ao Internacional para que lá, nos Eucaliptos, se ampliasse aquela quadra de esportes. E aí um grupo de colorados, que depois constituiu-se na Comissão de Obras, resolveu apostar naquilo que se chamava bóia cativa, que foi uma doação que teve origem nesta Casa, por Efraim Pinheiro Cabral, que doou a área do futuro aterro ao Internacional. E aquela Comissão de Obras, que servia como mestre de obras, cozinheiros, churrasqueiros, captadores de recursos, levaram o Internacional a essa potência que hoje está. E lembro-me bem do atual Presidente Asmuz tratando de todos esses assuntos, até confesso, que nunca quis saber qual era o clube do Catarino Andreatta para não ter que torcer contra ele, e a teu favor - era gremista. E depois do Estádio Beira-Rio, aquele aterro, também obra principal de um colorado, Prefeito desta Cidade, Telmo Thompson Flores, então Diretor do DNOS, depois a doação do Parque Gigante, da área, já no Governo Guilherme Socias Villela, também um Conselheiro colorado. Junto com o Secretário do Planejamento de então, Ver. Clovis Ilgenfritz, que foi até poucos dias, é bom que não se remexam muito naqueles papéis, porque a área cresceu de uma forma desmesurada e estranha para que o Parque Gigante pudesse ser aquele cartão de Porto Alegre, e o é, que foi aberto, depois, mais ainda, com a obra de um gremista, que foi Alceu Collares, na abertura da Av. Edvaldo Pereira Paiva, também Beira-Rio. Esta Casa aprovou também alteração no Plano Diretor para que todas aquelas lojas do Internacional, os restaurantes se tornassem viáveis. E, finalmente, esta Casa deverá participar de um dos maiores debates que vai haver nesta Cidade e que vai haver no nosso Clube, o que fazer para ao mesmo tempo preservar os Eucaliptos de tantas e tantas glórias, Eucaliptos que foi aumentado inclusive com a ajuda da municipalidade, para sediar jogos da Copa do Mundo de 1950. O que fazer do Eucaliptos para mantê-lo sem frear o desenvolvimento e as necessidades do Sport Club Internacional. Quando Presidente, Marcelo Feijó constituiu uma Comissão que era presidida pelo Aguiar e por mim. Já estudamos de que forma poderíamos aproveitar aquele patrimônio. E uma das formas, a dominante, era a sua transformação, e o seu desaparecimento como praça de esportes. E esta Casa, o Internacional, que cultua os Eucaliptos como uma espécie de um museu sagrado das glórias anteriores, precisa, junto com a Prefeitura, junto conosco, dar condições para que aquilo se mantenha sem que o Sport Club Internacional fique só ele como responsável da manutenção de tal relíquia. Este será um dos grandes debates que esta Casa terá. Mas saibam Sr. Presidente, Srs. Diretores do Sport Club Internacional, que a Câmara Municipal de Vereadores, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, como sempre, estará ao lado do Sport Club Internacional que hoje completa os seus 81 anos. Isto é uma idade respeitável e nós queremos que os nossos filhos, os nossos netos, os filhos destes colorados que aí estão, que já assumem a presidência, já assumem as vice-presidências, nós precisamos transformar o Internacional - e também o Grêmio -, num monumento de fé, de glórias e num monumento para dizer, definitivamente, que este clube faz parte desta Cidade, faz parte deste Estado e deste País como uma de suas maiores legendas; E um Clube que é o Clube do povo merece desta Casa que também é do povo todo o nosso carinho, todo o nosso afeto mas principalmente todo o nosso apoio. Sou grato. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra para o Sr. Luiz Carlos de Carvalho Leite.

 

O SR. LUIZ CARLOS DE CARVALHO LEITE: Com a humildade que sempre caracterizou o Internacional, desde suas origens, mas com a altivez da gente gaúcha, aqui estamos, atendendo a convocação da Câmara de Vereadores de nossa Cidade. Permitam Vossas Excelências que manifestemos, neste momento, nossa satisfação e nosso agradecimento por sermos lembrados para tão significativo ato. Embora sensibilizados e orgulhosos com a cerimônia, sentimo-nos à vontade de aqui estarmos, porque, na Casa do povo, presente se faz o Clube do Povo. Essa simples referência é suficiente para que possamos perceber a identificação existente entre a história do clube e a de Porto Alegre, ambas marcadas por heroísmo, lutas, sacrifícios e, sobretudo, por vitórias inesquecíveis, sempre conquistadas com muito sangue, suor e garra, após perseguição obstinada, mas consciente. Falar-se em Porto Alegre, especialmente neste século, é falar-se em Internacional, tantos são os pontos comuns e tantos foram os homens que escreveram ambas as histórias, às vezes, até simultaneamente. Hoje, sem dúvida, estamos assistindo o que de mais belo a democracia nos reserva: o povo homenageia o povo. É a união do esporte com os sentimentos mais elevados de um povo, é a simbiose da raça a consagrar uma única alma gaúcha a pulsar em um coração rubro que, a cada batimento, despeja por todas as artérias deste Estado e da Cidade, principalmente, uma mensagem de confiança, fraternidade, otimismo e amor. Até isso o Internacional consegue!

Nestes 81 anos - nunca é demais relembrar - conseguimos projetar as cores do Clube e o nome da Cidade além das fronteiras. Jamais os jovens idealistas de 1909, que fundaram este Gigante, no dia 4 de abril daquele ano, poderiam imaginar a dimensão que a sociedade estão criada atingiria. “O passo que eles deram foi previsto sob o limbo de um sonho prevenido”, como está referido nos versos de nosso festejado poeta Carlos Nejar. Nessa brilhante trajetória, colorados de todas as épocas, a par de formarmos respeitáveis times de futebol, com o “Rolo Compressor”, nos anos 1940, o consagrado time do panamericano, na década de 1950, a notável equipe dos anos 1970, tri-campeã brasileira, e, mais recentemente, a formação que, representando o Brasil em Los Angeles, obteve a medalha de prata, em olimpíadas que ainda estão na memória de todos, alçamos o Internacional ao 1º lugar do ranking do futebol pátrio. Mais do que isso, construímos todos nós, a partir de Projeto de Lei nascido nesta Casa, às margens do Guaíba, um complexo esportivo-sócio-cultural. Das entranhas do rio, graças à abnegação e ousadia de homens de fibra e de fé, extraímos tijolos, ferro e cimento e edificamos o Estádio José Pinheiro Borda, o nosso Gigante da Beira-Rio, que também aniversaria, além de um magnífico Ginásio de Esportes, que abriga a única biblioteca mantida por um clube de futebol, e do extraordinário Parque Gigante. Qual cupido, integramos, em um mesmo cenário, o rio e o clube, flechando-os com a seta da paixão e estabelecendo o namoro infinito da natureza com a obra humana, cujo romance é acariciado pelas fugazes vagas impulsionadas pela brisa amena da criatividade de nossa gente.

Isso tudo não é o bastante. O Internacional tem compromissos com os que aqui vivem e com sua terra. Temos que cumprir nossa missão aprimorando o homem, fazendo-o crescer, quer cultural ou fisicamente. É necessário ter, como dizia Shelley, “todas as manhãs olhos novos para o Universo”. O Internacional é muito mais do que um estado de espírito, para ser o reflexo dos sentimentos de comunhão, luta, sacrifício e alegria que caracterizam a alma do porto-alegrense. Com efeito, sublimado pela forma com que se dedica ao seu clube de coração, vivendo intensamente as glórias conquistadas em memoráveis e inesquecíveis jornadas, enfrentando com obstinada humildade e dedicação as tristezas e desilusões inevitáveis, o torcedor colorado é, sobretudo, a síntese do homem de nossa terra, face ao cotidiano da vida, sempre pronto para novos embates e desafios, nunca esmorecendo diante de reveses e tropeços inesperados e grandioso e inimitável nos momentos de maior êxito.

Esse, sem dúvida, é o perfil do Clube e o retrato de seu povo. É por isso que nos dedicamos ao Internacional, porque acreditamos que o nosso esforço contribuirá para minimizar o sofrimento de nossos irmãos e servirá para demonstrar que é preciso ter fé no País, que é possível debelar-se a crise, se é que ela existe e por mais séria que ela seja. Para tanto, é necessário trabalho e é indispensável amor. O Internacional sempre foi um exemplo a ser seguido e nosso objetivo é prosseguirmos nesse propósito, para o engrandecimento do Clube, projetando nossa Cidade. O Internacional nasceu do idealismo de um grupo de rapazes e continua, nos seus 81 anos, um ancião de idéias jovens e projetos arrojados, jamais aceitando ceder diante de obstáculos. Aos colorados de todas as épocas, que permitiram chegássemos até aqui, prestamos nossa comovida e reconhecida homenagem, repetindo as palavras de José Ingenieros, que a eles se aplicam: “Os forjadores do porvir são inatuais. Vivem no tempo mais que no espaço, porque, ao primeiro, corresponde o que há de vir e, ao segundo, o que já veio; não se estendem no hoje, alongam-se no sentido do amanhã.”

Mas, se aqui chegamos, não podemos parar. Estamos cônscios de nossas responsabilidades e a homenagem prestada por Vossas Excelências traduz o anseio de todos. Pretendemos continuar a crescer porque ainda possuímos o vigor, a obstinação e principalmente a “luz da nova idéia”, que inspiraram os fundadores do Clube, os quais transmitiram a todos nós, colorados de hoje, os versos de Raimundo Correia:

“O cérebro febril da ardente juventude/ É um vulcão também; a luz da Nova Idéia/ Há de romper de lá em súbita explosão!”

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Assim como o Ver. Artur Zanella citou um jogo da Portuguesa, eu lembro de um jogo da Portuguesa e do Inter e graças ao Oscar, massagista que residia no Estádio dos Eucaliptos, quando de repente surgiram três furúnculos em mim e eu não pude jogar. Graças a ele e ao Flávio que entrava num tempo e eu no segundo tempo. Assim, o Flávio tomou conta da posição. Foi nesta época que o Internacional tinha um ponteiro que veio de Rio Grande, não me lembro do nome, um ponteiro-esquerdo, que tomou conta da posição.

Mas eu gostaria de fazer uma homenagem também ao Paulo Záchia. Tem muitos jogadores que se consagram aos 44 minutos de jogo. Com os presidentes pode acontecer a mesma coisa. Tem outros que são consagrados durante um ano inteiro, mas para nós porto-alegrenses, rio-grandenses e colorados já está consagrado. Jovem, com muito futuro, assim como os demais presidentes que passaram. Gostaríamos também de desejar ao Presidente Asmuz, em sua diretoria, no seu trabalho, porque depois que se passa no futebol aprendemos a respeitar o atleta, se respeita também os diretores e presidentes, porque por onde passamos, diretores, presidentes de um clube, até da várzea, quando se entra num clube é para fazer o melhor. Eu tenho certeza que o Asmuz voltou, os conselheiros precisavam que o Asmuz voltasse, de um outro estilo para tentar dar uma reviravolta. Eu tenho certeza que as coisas vão melhorar e, através de sua Diretoria, que está fazendo um esforço imenso, e que esses 81 anos se repitam por muitos e muitos anos, para que passe, deixando a nossa marca, e que venham outros colorados que vão levando não só o esporte do Rio Grande, mas também o nome do nosso País, que é mais conhecido no mundo inteiro pelo esporte.

Por isso, Presidente, um grande abraço, o meu respeito, e que esta data se repita por muitos e muitos anos. E quando perder vamos levantar a cabeça de novo, porque infelizmente foi aquele momento. Um abraço ao Paulo, pessoa que muito admiro, como os demais companheiros da Diretoria anterior. Paulo, não perdeu nada, foi um excelente trabalho.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h13min.)

 

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